A LIÇÃO DA ROSA
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(Fátima Guerra)
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Último sobrevivente do roseiral extinto,
o botão abre os olhos e exclama,
vendo o canteiro de margaridas :
“ Ó, como são lindas as minhas vizinhas !
Que gracioso saiote ostentam,
tal qual pequenas bailarinas !”
As flores silvestres
entreolharam-se boquiabertas,
encantadas com a gentileza daquela que,
em outros tempos,
trataria todas as demais como súditas desprezíveis.
O vento que passava, porém,
ouvindo tão surpreendente declaração,
velho conhecedor do caráter de todas as coisas,
decidiu por à prova tamanha simplicidade.
Soprando uma nuvem de chuva,
formou um espelho de água diante da flor,
de modo que ela pudesse ver-se refletida ali.
Dito e feito !
No exato instante em que aquele botão
reconheceu sua imagem refletida,
um pequeno grito de indignação ecoou no ar,
enquanto que as pontas de vários espinhos
empertigavam-se em seu caule esguio.
- Ó, eu sou uma rosa! – exclamou indignado,
acrescentando imediatamente :
- Como poderei sobreviver entre seres
tão inferiores a mim ?
As margaridas inconformadas
pediram uma explicação ao vento
velho e sábio.
Com sua voz grave e profunda, ele falou :
“ A simplicidade só é possível, se,
consciente daquilo que tu és
e daquilo que tu podes,
ainda assim , souberes que em nada serás melhor
do que os demais,
porque a cada um será dado seu valor,
e todos somos diferentes.
No mais, tudo terá sido apenas
a tua Ignorância ...”.
Assim se deu com a rosa.
- Pensemos sobre isso! –
***
Santos-17/10/10-17:50